Estou feliz porque as pessoas que assim como eu são portadoras do vírus “Paixãoporcavalos” estão me mandando depoimentos lindos contando como convivem com essa doença.
O relato de hoje é da Sílvia Di Domenico que vem com uma linda carta para sua égua. Leiam abaixo.
Sempre quis escrever para o Hipismo&Co contando como gosto de ler as postagens diárias e sobre como é importante ter esse site onde podemos ver que existem pessoas iguais a nós e ler sobre tudo aquilo que acontece em nosso dia a dia, como se fosse um diário. Mas dessa vez vim aqui para contar um pouquinho da minha história depois que peguei o vírus “Paixãoporcavalos”.
Esses seres encantadores tem mesmo um poder sobrenatural, algo que vai além da compreensão humana e só entende quem contraiu esse vírus. Meu primeiro cavalo, na verdade foi uma égua chamada Ofélia. Ela era um animal que recém tinha voltado do campo, não era mais a mesma, como achavam que ela não servia mais pra nada, depois de quase ter ido para um abatedouro, foi para a escolinha. Ouvi essas expressões várias vezes ao conhecê-la, ainda na escolinha. Foi através dela que adquiri o vírus da “Paixãoporcavalos”. O olhar dela era tão profundo, ela lia minha alma. Ninguém acreditava nela, acho que ela era igual a mim em alguns aspectos, ou em todos, foi por isso que resolvi que ela e eu, seríamos uma só. Eu a ajudaria, simplesmente porque já a amava. Foi ela quem me ensinou a galopar, ela não era um cavalo para qualquer um, era difícil e eu já comecei no hipismo com certa idade, vinte e poucos anos. Para mim não foi fácil. Mas eu estava decidida, determinada e juntas conseguimos. Devo muito aquela égua preta.
Antes mesmo de ser infectada pelo vírus, já escrevia poesias sobre cavalos, isso só aumentou depois de começar a praticar o esporte, as escrevo em um blog pessoal. São várias poesias, algumas muito profunda.
Por que sou portadora da “Paixãoporcavalos”, tomei uma atitude, pensei comigo; – já que não tem cura, vou aceitar essa condição e alertar as pessoas que chegarem perto de mim, com uma tatuagem de cavalo. Agora quem se aproxima de mim já sabe que sou uma apaixonada por cavalos!
Para minha querida égua Ofélia, escrevi algumas palavras.
Um brinde àquela que trouxe a minha resposta pra pergunta:
O que você quer ser quando crescer?
Um salve, àquela que me trouxe amigos, alegrias, sorrisos, sentido.
O único abraço que eu recebo na maioria dos dias.
O beijo, babado de ração e feno, mais carinhoso que existe.
…
Eu não acreditava em anjos até encontrar você.
Eu não acreditava na vida, até encontrar você.
Eu não acreditava em mim até que você acreditou.
Acreditou e me fez querer estar viva, só pra estar do seu lado, ou melhor, nas suas asas! Só pra estar no teu mundo, no meu mundo, no haras. Eu, você e todo mundo que tem lá!
Até que você me emprestou seus olhos, pra que eu pudesse ver mais longe, e seu coração pra que eu pudesse sentir a importância que eu tinha, a diferença que eu fazia na sua vida e você na minha. Você concedeu sua alma pra minha morar. Somos iguais.
Estar em suas asas representa certo risco diário. O que as pessoas não entendem, é que toda a liberdade tem seu risco.
Assim que eu te vi, eu tive medo, não desejei saltar contigo aqueles obstáculos. Eu te vi, e assim como muitos quase te rejeitei porque… você era o meu espelho. Robusta, fechada, até um pouco fria e autoritária com quem quisesse lhe impor ordens e regras, com quem quisesse lhe dizer como a vida deveria ser. Você e eu, impermeáveis.
Foi quando me desafiaram a me aproximar de você. Ali, eu percebi que você não era nem um monstro. Na verdade o meu retrato precisava apenas de alguém que olhasse pra além dele, que lhe tirasse o pó, que o enfrentasse e fosse além do limite imposto.
Sou melhor por você. Foi você quem definiu os rumos da minha vida. Se não há ninguém na plateia há você comigo, e me diga Ofélia, de que mais eu preciso? Meus aplausos estão em suas patas, minha motivação nos teus olhos que dizem algo que não se decifra, apenas se sente. Teus olhos me refletem, teus olhos me dizem que não estamos ali por acaso. Teu temor me pede valentia, a minha hostilidade te pede companhia. A tua brutalidade pede a minha delicadeza, a minha revolta te pede compreenção. A tua energia, me pede esforço, a minha solidão pede a tua alegria. Você é tudo o que tenho, é tudo o que sou. Você e eu. É só o que somos, é só o que temos, uma a outra.
E se fosse o único motivo que existisse… ainda assim, teria um significado supremo pelo qual viver.
A Ofélia La Cañada