A 6ª Convenção Nacional do Cavalo Campolina, realizada nos dias 21 e 22 de junho, em Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, contou com uma palestrante muito especial, de Amyr Klink, um dos mais respeitados navegadores de todo mundo. É conhecido por suas várias proezas no mar, como quando rodeou o mundo numa circunavegação em torno da Antártica, local por qual tem grande paixão.
Klink não é um conhecedor de cavalos, mas sabe os caminhos que os criadores devem trilhar para alcançar objetivos. Relembrando parte de sua história, disse já ter cavalgado num Campolina, uma égua chamada Mulata, que pertencia ao pai. “De certa forma, criar cavalos e fabricar barcos tem algo em comum. Faço uma espécie de “melhoramento genético” nos barcos, que são ruins, planejados mais para o aspecto comercial do que para se ter eficiência e performance”, disse.
Há 27 anos, Amyr viaja regularmente para a Antártica. Falando sobre as dificuldades, destacou a falta de apoio para abastecer, dando como exemplo a Argentina, que, segundo ele, vive um momento de corrupção institucional com conivência da população. “Éramos literalmente extorquidos. Tínhamos de pagar uma taxa de US$ 5,4 na entrada e também na saída. Além de criarem problemas impossíveis de serem previstos”, relatou.
Cansado, Amyr passou a usar o Chile e as Ilhas Falk como bases de apoio. Mesmo com este ponto de partida, a distância era grande e não se poderia reabastecer. Não havia espaço para erros. “Coisas boas saiam disso tudo. Tais dificuldades acabaram imprimindo um jeito diferente de desenvolver nossos projetos”.
Explicou que a calmaria só vinha quando atravessa a linha de convergência, sinal de que o processo complicado chegara perto do fim. Satisfação que vinha redobrada por alcançar seu objetivo com um barco que eles mesmo criou. “Era nessas viajem que conseguia melhorar a qualidade dos meus barcos. Aprendia coisas que meus colegas não conseguiam entender. Vocês, criadores de cavalos, devem ser assim. Pela paixão, devem se dedicar, mas precisam também planejar e ter competência gestora”.
Esse é o ponto que o Campolina está vivenciando. A raça passa por um processo de transformação, no qual o mercado dita os desafios aos criadores e estes, por sua vez, remodelam o projeto para atingir o objetivo.
As histórias de Klink foram muitas, e todas puderam ser bem exploradas pelo público que assistia sua apresentação. Uma experiência, em especial, foi quando ele e um grupo de amigos enterram um “tesouro” na Antártica, ideia que surgiu quando um integrante buscava uma desculpa para retornar àquele exuberante lugar.
Klink perguntou ao amigo: “Você está com sua carteira e documentos?”
Surpreso, o amigo perguntou: – O que pretende fazer?
O navegador respondeu: “Ora, vou enterrar. Se eu fizer isso, um dia você terá de vir buscar”.
Dessa brincadeira, cada integrante abriu mão de um pertence de valor sentimental. Eles passaram pelo local umas sete vezes, mas nunca mexeram no tal tesouro. Isso só aconteceu quando o experiente navegador, pela primeira vez, levou as filhas para sua jornada. “Elas estavam loucas para conhecer a tão falada ilha do tesouro”, comentou.
A partir do momento que chegaram, demoraram cerca de 22 dias para encontrá-lo. Era mês de janeiro e o solo estava coberto por mais de quatro metros de neve. “Quando encontramos fizemos um altar e uma arquibancada. Na hora que abri, acho que aquele havia se tornado o momento mais triste da viagem. Minhas filhas ficaram totalmente decepcionadas por não encontrar ouro e nem pérolas”, relembra.
A imagem do tesouro que tinham era diferente, porque não entendiam o significado sentimental daquele ato. Mas, um dia compreenderam. Em outra viagem, elas deixaram cartas com o pai, que ficou incumbido de enterrá-las e proibido de ler o conteúdo. “Voltamos lá no ano passado, para resgatá-lo. Eu quero dizer com tudo isso é que vocês, criadores, consigam transformar o Cavalo Campolina nesse grande tesouro”, disse ao final de apresentação.
Fonte: Pec Press® – Imprensa Agropecuária